Sunday, October 26, 2008

Entrevista com Jairo "Tormentor" Guedz


Fui bater um papo com Jairo “Tormentor” Guedz, guitarrista fundador do Sepultura, que gravou o Ep “Bestial Devastation” (1985) e o primeiro lp da banda “Morbid Visions” (1986). Jairo contou um pouco sobre a história do Sepultura no início de carreira da banda, falou sobre as bandas que participou posteriormente – The Mist, Overdose e Eminence – e sobre curiosidades de sua carreira e gostos pessoais. Acompanhem nessa entrevista.

Jairo, gostaria que você falasse como foi o seu primeiro contato com a música e quais seus ídolos?
Jairo “Tormentor” Guedz – Minha mãe me apresentou sua coleção do Elvis Presley em 1978 e de lá prá cá só fui evoluindo minhas influências com rock mais pesado. Aerosmith, Van Halen, Sweet, Black Sabbath, Metallica, Slayer, etc. Quanto aos meus ídolos (músicos) eu sempre gostei muito de Serge Gainsbourg, Leonard Cohen, Sisters Of Mercy, Lou Reed e James Hetfield do Metallica.

Como foi o início do Sepultura? Como a banda foi formada e como era o cenário naquela época que vocês estavam começando com a banda?
Encontrei os caras durante uma briga num show em BH. Eles no início achavam que eu era o irmão gigante de um playboy que eles estavam batendo, mas depois de um tempo, na mesma noite, viram que eu só queria trocar “figurinhas” e me chamaram para ver uns ensaios, que por sinal eram péssimos. Eu fui convidado a tocar umas coisas minhas e acabaram me convidando para o grupo no mesmo dia. O que eu toquei na época se tornou depois as músicas “Troops Of Doom” e “Necromancer”.

Por que você saiu do Sepultura? Existe algum arrependimento ou mágoa que se você pudesse voltaria atrás em algum ponto da história da banda?
Saí para resolver umas pendências minhas: casamento, filhos, grana, etc. Nunca me arrependi de não ficar rico com o Sepultura, mas sempre me arrependi da falta que a nossa amizade fazia em vários momentos da minha vida.

Você tem algum contato com membros e ex-membros do Sepultura?
Tenho contato com todos separadamente. O Max eu encontrei pela última vez em Tolmim na Slovênia em 2005 quando minha banda abriu um show do Soufly. O Iggor eu falo com ele de vez em quando por telefone. O Paulo e o Andreas são grande amigos e nos vemos muito em São Paulo ou em Belo Horizonte.

Você pensava no momento em que deixou a banda que ela se tornaria tão grande e influente como se tornou no meio dos anos 90?
Não tão grande quanto ela se tornou, mas saí da banda tendo conhecimento de alguns contratos que estavam para acontecer.


Como foi a sua participação no DVD/CD “Live In São Paulo” (2005) do Sepultura? O que você achou do material e da sua performance e da banda nesse trabalho?
Foi muito bom. O público sempre fica transtornado quando os caras anunciam meu nome. Eu entro no palco e uma galera que está atrás vem correndo para a frente do palco. É muito engraçado e ao mesmo tempo é uma atitude que dou muito valor. Os caras da banda também gostam muito quando posso me apresentar com eles. A energia da banda é muito boa, sem demagogias. É como uma família que dá certo quando estamos juntos.

O que você acha da atual fase da banda?
Eu respeito todas as fases do grupo. Não fico dando toques pros caras pois cada um segue seu destino e decide seu caminho. Acho que a fase de 1995 era a melhor de todas, mas foi exatamente esta fase que ironicamente se transformou na maior briga da banda e culminou com a saída Max e do Iggor posteriormente.

Em entrevistas recentes Max Cavalera diz que seria interessante uma reunião da banda e que ele gostaria que você estivesse envolvido nessa reunião. O que de verdade há nessa afirmação? Houve contatos a respeito? Você aceitaria participar dessa reunião?
A afirmação é 100% verdadeira. Tive sim algum contato com eles a respeito disso, mas na verdade, a banda é do Paulo e do Andreas. Não é o Max, o Iggor ou eu que decidiremos o que será feito com o futuro do Sepultura. A banda pertence aos seus membros, não aos seus ex-membros.


Bom, saindo do Sepultura você montou o The Mist. Na minha opinião uma excelente banda, bastante inovadora e vanguardista. Porque você acha que a banda não se tornou grande como merecia? O que faltou para ela atingir o sucesso de outras bandas do selo Cogumelo na época?
Simplesmente porque não tínhamos nenhuma estrutura por trás do grupo que nos ajudasse com contratos, etc. No ano de 1992 recebemos uma proposta da gravadora inglesa Music For Nations e recusamos por falta de estrutura e de empresário. Pensamos muito na parte musical e individual e deveríamos ter pensado nas possibilidades que este contrato poderia nos trazer no mercado internacional.

Fale um pouco sobre as outras bandas que você esteve envolvido, Overdose e Eminence. Como foi essa época em sua carreira?
Foram boas experiências. Não costumo mais falar do Eminence. Não tenho boas recordações daquela época, apesar de considerar o grupo muito profissional. Quanto ao Overdose, eu passei um ano com eles como guitarrista e adorei. Tínhamos muita energia e respeito um pelo outro. Infelizmente as coisas não deram certo e a banda se dissolveu. Eu tinha sido contratado para uma turnê nos EUA abrindo para o Mercyful Fate, e assim que completamos um ano juntos as coisas ruíram de tal forma que cada um foi pro seu canto. É outra grande banda e da qual sinto muitas saudades dos caras também. Hoje somos amigos e nos vemos de vez em quando.


Qual a sua maior qualidade e o seu maior defeito como músico?
Qualidade e defeito são meras conjecturas. Eu acho que minha maior qualidade é o meu maior defeito, e isso eu penso porque conheço como poucos o mercado do Heavy Metal mundial. Eu sou muito flexível, gosto de tudo um pouco, tenho muitas influências diferentes e gosto de juntar as peças para fazer algo inovador, algo que possa ser considerado “arte” de verdade. Isto pode ser uma grande qualidade se você não está tão preocupado com “ganhar dinheiro com o metal” ou se sua banda é formada por membros que pensam de forma tão aberta e flexível. Do contrário, as coisas se tornam muito difíceis.

O que você tem ouvido ultimamente? Quais bandas nacionais e internacionais que você acha que vale a pena indicar para as pessoas?
Nacionais eu gostei muito do Attack Force de São Paulo. É metal cantado em português da melhor categoria. Até gravei o baixo no álbum de estréia dos caras e por isso afirmo que são realmente bons pra caralho. No mais, o Brasil está muito carente de coisas inteligentes e inovadoras. Ainda temos muito o que aprender em matéria de estrutura para as bandas de metal e shows, turnês e empreendimentos, merchandising, etc. Quanto as bandas de fora eu tenho ouvido muito Tool, A Perfect Circle, Ministry, Puscyfer, Slipknot, Metallica velho e Samael.

Quais os seus projetos futuros dentro da música?
Eu tenho um projeto em andamento hoje com quatro amigos meus. Um dos caras é do Rio de Janeiro e toca guitarra com a banda Matanza. Nós estamos ensaiando pouco, pois o cara tem que vir do Rio de Janeiro para Belo Horizonte toda semana e isto dificulta muito as coisas. A intenção dessa banda é fazer o que der na teia, sem medo, sem stress, sem nada que prenda nossos rabos à alguma coisa ou estilo. Queremos ser felizes em tocar o que Nós decidirmos, nada mais.

Jairo, obrigado pela entrevista. Gostaria que deixasse uma mensagem para todos.
Muito obrigado e espero ajudar algum metaleiro maluco que ler essa matéria de alguma forma. Diga não as drogas e não leve mulheres para os ensaio, pois isso acaba com qualquer banda.

Thursday, October 23, 2008

Entrevista com Roosevelt “Bala” Cavalcante (baixo e vocal do Stress)



O Stress foi a primeira banda a gravar um disco de metal no Brasil (Stress, 1982). Uma verdadeira máquina metálica vinda do Norte do país que entrou para a história do rock nacional. Antes chamada Pingo D´Água, depois batizada Stress, nome que a consagrou definitivamente no cenário. Músicos experientes, Roosevelt “Bala” Cavalcante (baixo e vocal), Paulo Gui (guitarra) e André Chamon (bateria e vocal) ainda levam o nome da banda com muito orgulho e tradição em shows esporádicos em Belém do Pará, cidade natal da banda. Nossa entrevista é com esse ícone do metal nacional chamado Bala. Um verdadeiro “metal god”.

Jairo Granado Junior - Bala, primeiro eu gostaria de dizer que é uma honra estar entrevistando você, um ídolo meu desde a minha infância quando esbarrava com você na ilha do Mosqueiro e ficava com vergonha de pedir autógrafo. Bom, primeiro queria que você falasse a respeito desses anos todos dedicado ao metal e da importância do Stress no cenário musical.
Roosevelt “Bala” Cavalcante - Só isso? Numa única resposta? Rsrs. O prazer é meu em poder compartilhar um pouco dessa história com vocês. Começamos como a maioria das bandas que surgem hoje, garotos que tem algo em comum, que se reúnem pra tocar suas canções prediletas. Para a época tínhamos um gosto musical extremamente alternativo,pois,o Rock Pesado não tinha espaço na mídia local e nem nacional. Mas, isso não importava,queríamos tocar o que gostaríamos de ouvir, era muito simples, rsrs. O fato de optarmos pelo Rock Pesado foi devido à nossa fascinação pelas guitarras distorcidas e pela pulsação rápida da bateria, aliada aos vocais altos e agressivos. Com o passar dos anos,o que era uma diversão de fim de semana passou a se tornar uma paixão.Vieram as composições próprias,os grandes shows em teatros e ginásios lotados, além de uma verdadeira legião de fãs e cúmplices da banda. Belém tornou-se pequena para o Stress, foi preciso alçar vôos mais altos. Foi quando a banda resolveu gravar o primeiro disco e sair para conquistar novos adeptos do seu som extremamente pesado e emblemático para os padrões da época. Surgia, assim, para o resto do país , direto da cidade das mangueiras, a primeira banda de Heavy Metal Brasil.

Qual a sua opinião a respeito do primeiro disco do Stress (Stress, 1982)? O que ele representou e representa em sua vida hoje em dia?
Era infinitamente mais difícil se gravar um disco naquela época, os custos eram altíssimos, equivalente ao de um apartamento de dois quartos. Não havia mais o que fazer, já tínhamos tocado nos melhores e mais conceituados teatros e ginásios da cidade, era preciso seguir adiante. Através de um amigo (o Profeta), contactamos o estúdio Sonoviso, no Rio, que nos garantiu que saberia gravar o nosso rock, já tinham feito isso várias vezes e dispunham de todo equipamento necessário para a gravação. Juntamos dinheiro com shows, vendemos objetos, pedimos pros pais e pegamos um ônibus pra enfrentar três dias de estrada até o Rio. Ficamos numa modesta pensão no Catete, dividindo beliches num único quarto. Ao chegar ao estúdio nos foi oferecida uma bateria toda fudida, quebrada e desmontada, jogada num canto de uma saleta. Usamos barbantes e fita adesiva para deixá-la armada. Recebemos a informação de que todo o equipamento prometido (bateria,efeitos, pedais, instrumentos..) deveria ser alugado. Finalmente começamos a gravar, tínhamos de ser rápidos, a grana tava curta e a hora de estúdio era uma facada. Começamos a perceber que os caras não manjavam porra nenhuma de gravação de rock pesado. Chegaram ao cúmulo de propor que tocássemos sem distorção, que eles dariam um jeito de colocá-la na mixagem. Tratamos de fazer nossa parte, tocamos como se estivéssemos num show , com toda fúria e crueldade que as músicas pediam, afinal, naquele momento estávamos registrando anos de trabalho e defendendo nossas idéias e pontos de vista não só sobre a música em si, mas, sobre o cenário social injusto para a maioria das pessoas.
Gravamos tudo em 16 horas, foi meio “nas coxas”, mesmo, não tínhamos mais grana pra pagar outras horas de estúdio e ainda teria a mixagem. Quando tudo terminou tivemos a certeza de que os caras não estavam preparados pra gravar rock pesado. Ficamos extremamente decepcionados com o resultado, esperávamos algo compatível com o que estávamos acostumados a ouvir. Não havia mais nada a fazer, não tínhamos mais recurso pra refazer qualquer coisa, nem pra pagar as horas extras de mixagem. Esperamos o técnico de som ir no banheiro e fugimos com a fita mixada. Relutamos muito em prosseguir com a produção desse disco, tamanho nosso desapontamento. Resolvemos, então, fazer uma tiragem mínima de 1000 cópias, só pra termos um registro oficial das músicas e não jogar fora a grana já investida. Juntamos mais dinheiro e fizemos a prensagem. O show de lançamento aconteceu no estádio do Paysandú, no dia 14 de novembro de 1982, para uma platéia estimada em 20.000 pessoas, um record absoluto que persiste até hoje para eventos musicais locais.Fizemos o lançamento desse disco no Rio, no Circo Voador, completamente lotado pra ver pela primeira vez uma banda de Heavy Metal brasileira, foi um sucesso estrondoso. A partir daí tivemos de nos mudar para o Rio e dar prosseguimento à nossa carreira fora de Belém. Tudo isso aconteceu por conta daquele primeiro disco, que quase não foi lançado em virtude de sua baixa qualidade de gravação, mas, que foi o grande responsável pelo repentino sucesso da banda para o resto do país. Devemos tudo a essa obra, que contém grandes clássicos do metal nacional em todos os tempos.

Você acha que a banda tem o merecido reconhecimento ou isso fica restrito somente ao meio metálico nacional?
Tivemos uma carreira contínua muito curta, depois do início aqui em Belém, onde fazíamos um show por ano, foi pouco mais de um ano no circuito nacional,de 85 a meados de 86. Ainda assim conseguimos quebrar muitas barreiras,gravamos mais um disco – o primeiro de uma banda de metal nacional por uma grande gravadora - ,que teve ótima repercussão nacional, fizemos alguns shows pelo sudeste, que nos renderam muitas matérias em revistas e jornais de peso (Isto É, Veja, Jornal do Brasil, O Globo, etc.). Levando-se em conta esse pequeno período de atividade, acho até que tivemos bastante reconhecimento. Se não tivéssemos parado em 87, talvez as coisas fossem diferentes e tivéssemos conquistado o mundo,rsrs.

Em qual estilo dentro do metal você acha que o Stress está inserido? Você acha que a banda foi a primeira a gravar um disco de Thrash Metal no mundo?
Quando começamos a compor não nos preocupávamos com os rótulos, mesmo porque eles na eram importantes, do progressivo ao pesado, tudo era simplesmente Rock. O que nos tornou diferentes foi a ousadia de sempre querer dar o passo maior que as pernas. A ordem era: “Vamos tocar aquilo que gostaríamos de ouvir, temos que ser mais rápidos e mais pesados do que qualquer outra banda no mundo”. Era, sem dúvida, um pensamento arrojado e um pouco prepotente, coisa de adolescente sonhador. Não tínhamos nenhuma pretensão de inventar nada, foi tudo obra do destino. Quando começaram os boatos que éramos os primeiros a fazer metal no Brasil custamos a acreditar, passaram-se alguns anos até assimilarmos essa informação e assumirmos tão honroso posto. Daí veio o título de pioneiros na América Latina, outra surpresa pra nós. Agora surgem os rumores que somos os primeiros no Thrash mundial, isso já é um pouco demais. Acho que as circunstâncias e a precariedade da nossa gravação de 82 possam ter incluído espontaneamente alguns elementos do Thrash no disco, por conta disso estamos nos candidatando a mais um título, qual será o próximo? Heheheh!!! Por enquanto estamos naquela fase intermediária entre os boatos e a comprovação. O fato é que se isso se confirmar oficialmente será mais um motivo de orgulho pra nós roqueiros de Belém e de todo o Brasil. Pessoalmente, apesar de conseguir ver alguns elementos do Thrash em nossas composições, não considero o Stress como uma banda de Thrash, somos uma banda de “Metal Amazônico”, logicamente com toda a influência do tradicional heavy inglês - afinal, os caras lá inventaram toda essa onda -, mas, com uma identidade bem nortista, com as peculiaridades, expressões e, sobretudo , refletindo a realidade do nossa gente amazônica.

Qual a sua maior virtude e qual o seu maior defeito como músico?
Tenho um ouvido excelente, posso compor ou tirar uma música sem ter nenhum instrumento na mão, só imaginando as notas, detecto facilmente um erro ou um momento de beleza de harmonia. Tenho um bom rítimo também, toco um pouco de cada instrumento, o suficiente pra me dar suporte na minha profissão. Acho que tenho facilidade pra compor, em vários estilos, já compus mais de 50 músicas, até dormindo eu já fiz isso, rsrsrs. Normalmente eu toco com muita vontade, com performance, mesmo quando não estou afim. Meu maior erro foi não ter continuado a estudar música, sou autodidata, não sei ler partituras e não me especializei em nenhum instrumento, só faço o trivial, mesmo, rsrs.

Quais são seus ídolos dentro da música e como você começou a gostar/escutar heavy metal?
Comecei a gostar de música ouvindo rádio, nos anos 60, no início da Jovem-guarda. Tínhamos: Os Incríveis, Renato e seus Blue Caps, Brazilian Beatles (que tocavam só versões ), e todos os artistas que se somavam ao movimento, era uma febre. Depois ouvi Beatles e Creedence, foi aí que percebi que gostava da voz e da guitarra distorcida deste último, era a paixão pelo som pesado surgindo, rsrs. Meu interesse aumentou quando conheci Led Zeppelin, Deep Puple, Black Sabbath e Sweet (minha banda do coração). Anos depois,vieram o Saxon, Motörhead, Iron Maiden, Rainbow, AC/DC, e por aí vai. Como vocalista, minhas maiores influências foram do Plant (Led) e do Halford (Judas) ,cada um foi mestre na sua época.

Como era o cenário de Belém do Pará na época em que vocês começaram e como está hoje em dia? Podes citar alguma banda do estado que vale a pena prestar atenção?
Não havia qualquer sinal de movimento musical algum, muito menos rock. Os discos de rock chegavam com atraso de anos às poucas lojas da cidade. Só pra se ter uma idéia do cenário da época eram extremamente raras as pessoas que gostavam de rock, por isso, havia uma grande afinidade entre os poucos roqueiros que resistiam aos modismos impostos pela mídia. Quando um roqueiro ouvia falar que havia um outro cara que curtia rock, mesmo que fosse num bairro distante, com alguns de seus melhores lp´s debaixo do braço, ele dava um jeito de achar a casa do elemento, chegando lá ele perguntava: “És tu que és roqueiro?”; logo estavam juntos à eletrola ouvindo seus discos e sacramentando uma nova e verdadeira amizade. Esse fenômeno quase epidêmico acontecia com certa freqüência em diversos bairros da cidade, só faltava um evento pra reunir esses focos de roqueiros que não sabiam da existência de outros seres semelhantes em outros pontos da ainda provinciana Belém do Pará. Enquanto isso, o Pingo D’água já fazia suas primeiras apresentações em festinhas de 15 anos e festivais escolares. Com o passar do tempo o repertório foi ficando mais pesado, não só pela evolução dos músicos, mas, principalmente, pela própria evolução do rock. Beatles, Stones e cia. deram lugar a Led Zeppelin, Black Sabbath, U.F.O., Sweet e outros igualmente pesados. O primeiro show oficial da banda, já com o nome Stress, aberto ao público, aconteceu no dia 10 de outubro de 1977, dia da primeira reunião dos roqueiros de Belém. Era nos shows do Stress que a cada vez maior legião de admiradores do rock se encontrava para curtir e viajar na idéia de que estavam assistindo aos seus verdadeiros ídolos através das interpretações feitas pelo Stress dos maiores clássicos do rock mundial. Foi a partir daí que a banda começou a ganhar popularidade e a cumplicidade dos fãs, que ajudavam na venda de ingressos, afixação de cartazes, distribuição de panfletos e o que mais fosse necessário. Éramos uma verdadeira irmandade, unidos pelo objetivo da disseminação do movimento rock de Belém. Hoje esse movimento cresceu bastante,existem mais de 300 bandas de Rock cadastradas oficialmente,embora o movimento tenha perdido a força por conta das diversas ramificações e estilos que derivaram do Rock, o que resulta em pouco público no eventos e na dificuldade das bandas se manterem. No momento existem duas bandas que estão tentando seu espaço fora do estado e merecem nossa consideração, não só por isso,mas, pela sua competência: Jolly Joker e Madame Saatan

Como foi gravar o dvd ao vivo da banda e como está sendo a repercussão desse trabalho?
Mais uma vez foi um desafio e um marco, por ser o primeiro dvd de uma banda de Metal no Norte e Nordeste. Precisávamos ter esse registro oficial em imagens da banda, os fãs antigos e os recentes estavam nos cobrando isso. Felizmente,depois de muito trabalho e dificuldades financeiras,o dvd saiu. Já recebeu muitos elogios em vários sites e revistas especializados, pois, lá está a verdade da banda, a forma como o Stress consegue interagir com o público, fazendo com que ele se sinta parte de sua história contada nas letras marcantes e no instrumental pesado de suas músicas.

Como você viu o relançamento do primeiro trabalho da banda em cd pela gravadora Dies Irae?
O contato foi feito com o André (batera) por um representante do selo no Rio. A idéia deles era relançar obras raras dentro da linha do metal. Não sei ao certo de quem partiu a iniciativa do convite, só sei que o cara tem um site especializado em bandas latinas de metal: http://www.metaleros.de/ . Pra nós se tornou interessante pelo fato de que uma distribuição mundial pode tornar a banda mais conhecida fora do nosso território. Trata-se de um disco histórico para o rock brasileiro e mundial, milhares de pessoas acessam o site da banda e questionam sobre os discos, como podem encontrá-los e etc. Com esse relançamento muitos bangers em todo o mundo terão acesso a essa obra, e foi justamente por causa deste relançamento que o Stress ganhou ânimo pra retornar aos palcos em 2001. Inicialmente com shows só em Belém. Atualmente a banda tem se apresentado em diversas cidades como: Rio, São Paulo, Campinas, Fortaleza, Natal. Pegamos o gosto novamente, rsrs.

Existe alguma chance dos discos Flor Atômica (1985) e Stress III (1996) serem lançados em cd?
O Stress III é originalmente em cd, foram lançadas 500 cópias, e não existe previsão pra relançamento. O Flor Atômica necessita de uma liberação da Universal Records para uma prensagem em cd, estamos tentando isso. Existe,sim, essa possibilidade, principalmente se algum produtor se apresentar pra custear tudo, rsrs.

Tem algum fato marcante que você gostaria de contar que aconteceu em sua carreira? Algo que te deixou orgulhoso da banda?
Teve um episódio interessante, onde fui convidado por Robertinho do Recife pra compor a banda Yahoo, pois, ele queria um vocalista que tocasse baixo e já me conhecia de vários shows que fizemos justos com ele no Rio. Tive de recusar a proposta, pois, estava na luta com os amigos do Stress. Eu podia estar rico, eles acabaram estourando, rsrs. Mas,não me arrependo.

Fale um pouco sobre os projetos paralelos dos membros das bandas e quais estilos vocês tocam com esses projetos?
Dos membros do Stress, somente eu estou trabalhando com música, com o ZONA RURAL, banda de Hard Rock, que também faz covers tocando na noite de Belém, com 3 cd´s e um dvd gravado. André é Oficial de Justiça no Rio e Paulo Gui é analista de sistemas aqui em Belém, e eventualmente toca com a banda Smeryl, covers de anos 60 e 70.

Existe alguma banda nova nacional e internacional que você indicaria para fãs de metal?
Gostei de ouvir o Hybria do RS, o Elektra de BH, o Comando Nuclear de São Paulo e do Madame Saatan, daqui. Das bandas internacionais, não há nada de novo que tenha me despertado a atenção.

O que você tem escutado ultimamente?
Costumo ouvir tudo de novo que me chega pela net, gosto de saber o que rolando por aí. Mas, na hora de tomar umas geladas eu recorro ao Baú, só com os clássicos dos anos 70 e 80, principalmente, além dos nacionais daquela época. Acho que sou um verdadeiro Old School nessa hora, rsrs.

Quais os planos para o Stress? Ainda veremos novos lançamentos da banda?
Pretendemos lançar um disco inédito, já começamos as composições. O problema maior é nos reunirmos pra finalizar os arranjos, já que moramos em cidades diferentes. Mas,vamos conseguir resolver essa questão e colocar um trabalho inédito pros nossos fãs que tanto esperam pelo quarto disco da banda. Fora isso, estamos aumentando nossa agenda de shows por todo o país, e pretendemos tocar em Belém logo no início de 2009.

Obrigado pela entrevista, Bala. Gostaria que deixasse um recado.

Valeu pelo espaço, Jairo. Espero que eu tenha contribuído pra esclarecer alguns pontos da trajetória do Stress, principalmente para aqueles que não tiveram contato com o Rock paraense nas décadas de 70 e 80. Pra nova geração de roqueiros que vai herdar a responsabilidade de manter forte o movimento metal em todo o país. Um pesado abraço a todos.

Sunday, October 19, 2008

The Clash - London Calling (1979)



Gostaria de começar esse texto dizendo que somente agora conheci essa maravilha da música chamada London Calling do também maravilhoso The Clash. Confesso que a maior parte da minha vida fui metalhead xiita a ponto de ignorar tudo de bom que a música oferece fora do “mundo headbanger”.
Não conheço a história da banda a fundo, não conheço nenhum outro disco da banda além desse, mas confesso que depois da primeira audição do London Calling, vou atrás da discografia completa. As duas mentes pensantes da banda se chamam Mick Jones e Joe Strummer, que fizeram essa obra prima da música, agregando influências do punk, ska, reggae, rockabilly e R&B.
Acho até um sacrilégio citar qualquer faixa como destaque, mas não posso deixar de mencionar a faixa título, a maravilhosa Jimmy Jazz, a política Spanish Bombs e o hit do disco, a última faixa “Train In Vain”. Além da produção precisa de Guy Stevens, muito raro naquela época de recursos tecnológicos limitados.
A capa é baseada no primeiro disco de Elvis Presley e se tornou clássica, talvez até mais que a de Elvis.
Esse disco é uma referência do estilo, um ícone da época em que foi lançado e um divisor de águas dentro do mundo da música. Uma obra perfeita que deve ser apreciada por todos. Se você é um radical headbanger que só escuta heavy metal, dê uma chance para obras maravilhosas como esse disco do Clash. Garanto que você não vai se arrepender. Palavra de um headbanger veterano e não mais tão radical.

Nota: 10

Faixas:
1. London Calling
2. Brand New Cadillac
3. Jimmy Jazz
4. Hateful
5. Rudie Can´t Fail
6. Spanish Bombs
7. The Right Profile
8. Lost In The Supermarket
9. Clampdown
10. The Guns Of Brixton
11. Wrong ´Em Boyo
12. Death Or Glory
13. Koka Kola
14. The Card Cheat
15. Lover´s Rock
16. Four Horsemen
17. I´m Not Down
18. Revolution Rock
19. Train In Vain

Formação:

Mick Jones – guitarra, vocal
Joe Strummer – guitarra, vocal
Paul Simonon – baixo, vocal
Topper Headon – bateria, percussão


Site Oficial: http://theclash.com/